terça-feira, 20 de novembro de 2012

Encontro Regional de Comunicação recebe trabalhos até 28 de novembro

As inscrições de trabalhos para  X Encontro Regional de Comunicação (Erecom) já estão abertas e vão até o próximo dia 28. Organizado pela Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o encontro, entre 12 e 14 de dezembro, integrará outros quatro eventos: o III Seminário de Pesquisa em Comunicação (ComPesq), promovido pelo Programa de Educação Tutorial (PET); a I Jornada Interna do PPGCom, organizada pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM); o I ComunicAcesso, promovido pela Acesso Comunicação Júnior; e o III Seminário de Pesquisa e Mercado, organizado pelo curso de Pós-Graduação em Comunicação Empresarial.

Cada trabalho a ser inscrito deve ter tema relacionado com um dos seis Grupos Temáticos (GTs) do evento: Teorias e Interfaces da Comunicação; Jornalismo; Rádio, TV e internet; Comunicação Empresarial e Relações Públicas; Publicidade e Propaganda; Cinema.

Os textos devem ser formatados em papel A4; fonte Times New Roman; corpo 12; margem de 3cm (superior e esquerda) e 2cm (inferior e direita); mínimo de sete e máximo de dez páginas, incluindo bibliografia, em espaço duplo; com resumo de até sete linhas, com três palavras-chave, além da identificação do autor (nome, titulação, instituição, área de atuação).

As inscrições para o Erecom ainda não estão abertas, mas estudantes de Comunicação de qualquer instituição de ensino, professores, pesquisadores e profissionais da área podem enviar seus trabalhos para o e-mailsecretaria.facom@ufjf.edu.br.

Outras informações: (32) 2102-3611 (Faculdade de Comunicação)


Texto disponível na página da Secretaria de Comunicação da Universidade

A cidade atrás das manchetes


Houve tempo em que, por detrás do majestoso epíteto de “Manchester Mineira”, se escondia o horror do trabalho nas fábricas de Juiz de Fora. Às lutas operárias deve-mos o aprimoramento, ainda que precário e imperfeito, das relações entre capital e trabalho, mas uma inteira cidade permanece oculta por detrás das manchetes dos jornais e dos noticiários televisivos. Uma Juiz de Fora invisível à imprensa local.

Um amigo nascido e criado no bairro da Creosotagem (e haverá ainda memória sobre o tempo e o lugar que este nome evoca?) dizia-me certa feita que a incipiente relação entre a imprensa e a cidade podia ser dimensionada pela profusão de cartazes nos tapumes e de “filipetas” distribuídas no Calçadão da Halfeld. Está em jogo aqui a própria função social do jornalismo, os seus princípios básicos como instrumento de reflexão (no sentido intelectual e ótico) sobre e da comunidade.

Neste sentido, cumpre a todos nós, jornalistas, leitores e telespectadores, definir estratégias de restabelecimento da consangüinidade entre Juiz de Fora e a imprensa local, reaprendendo a lição do velho jornalista francês: “Um incêndio no Quartier Latin interessa mais do que uma Revolução em Cuba”. Não, meu caro leitor, não se trata de propugnar por uma imprensa provinciana, tacanha, interessada tão-somente no pitoresco e no folclórico. O que se pretende é uma imprensa capaz de desvelar a polifonia de uma cidade de 500 mil habitantes, de registrar as suas misérias e as suas grandezas, de escavar os tempos e lugares ocultos sob a pátina dos discursos oficiais e oficiosos.

Houve épocas em que a imprensa local era menos afeita aos press-releases e entrevistas coletivas. A tarefa diária dos jornalistas se confundia com o perder-se na cidade para fazer de seus textos e fotografias o fio de Ariadne com que os leitores podiam penetrar nos enigmas da Juiz de Fora concreta e cotidiana. E se o ritmo das redações dificultava esta tarefa, havia os cronistas locais, empenhados em inscrever no livro de registros da cidade os acontecimentos efêmeros, as personagens anônimas, os dramas mínimos, as paisagens transitórias.

Onde os jornalistas capazes de descentralizar o noticiário para atingir as margens? Onde os cronistas que humanizam os espaços da cidade, doando sentidos, personagens e movimentos à nossa cena cotidiana? Onde os jornais impressos e televisivos em que Juiz de Fora seja protagonista, e não mera figurante ou estilizado cenário? Restabelecer a relação especular dos meios de comunicação com a cidade é tarefa de todos nós, pois não podemos descurar do papel fulcral da imprensa na construção da imagem e da identidade cultural de Juiz de Fora. Sem espelhos que reflitam a cidade, sua história, seus centros, suas margens, torna-se impossível perceber que a proposição do Plano Estratégico da Prefeitura Municipal de uma cidade-educadora é apenas a reiteração do que já fomos e, apesar das políticas públicas, continuamos sendo. Esta uma de nossas muitas faces ocultas, construída por gerações de anônimos professores, embora precariamente figure nos noticiários.

Por Fernando Fiorese

[Da série “Plano estratégico de Juiz de Fora”, 06]
Série de nove crônicas publicadas originalmente no jornal 
Tribuna de Minas de maio a setembro de 2000, 
por ocasião das comemorações dos 
150 anos de Juiz de Fora.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A cidade como signo*


Em conversa recente, o poeta e amigo Edimilson de Almeida Pereira me dizia: “Não sei se amo esta cidade, sei apenas que, cada vez mais, ela me interessa como signo”. E haverá outra forma, mais vertical e delicada, de amar uma cidade? Atenção e cuidado, embora sem desconhecer a crítica. Um sentimento que se realiza na “distância amorosa” (feliz expressão de Roland Barthes) e nos vários poemas que, em Águas de contendas (vencedor do Concurso Nacional de Poesia “Helena Kolody”, 1997), Edimilson dedica à leitura afetiva da cidade. Uma poética topográfica, exemplo cabal de que, mesmo secretamente, empenham-se os artistas locais em dar a ver a Juiz de Fora dos nossos medos e encantamentos, das nossas esperanças e ilusões perdidas.

Nas páginas de Águas de contendas, o registro de personagens e lugares, datas e paisagens, nos quais apenas o olhar do poeta pode surpreender a manifestação da cidade plural que habitamos. Ali estão o Caminho Novo e os descaminhos do Shangai, a geometria rasurada do painel de Portinari e a chama da igreja do Rosário, as imagens do centro produzida pela Neo-Carriço Films e os arrabaldes do presente e do passado. Todas as cidades, a cidade. Talvez mais do que as obras anteriores de Edimilson, Águas de contendas demonstre a eleição afetiva de Juiz de Fora como signo poético a ser decifrado, especulado, desdobrado.

Decerto tal atitude pode ser encontrada na memorialística de Pedro Nava e Rachel Jardim, na poesia de Murilo Mendes e Affonso Romano de Sant’Anna. Mas a estes foi necessária a distância física e sentimental, enquanto uma nova geração, representada não apenas por Edimilson, mas também por Iacyr Anderson Freitas e Marta Gonçalves, dentre outros, ainda insiste em habitar a Juiz de Fora concreta e presente para criar as imagens e textos que nos permitam, nos desvãos das palavras, encontrar as figuras, tempos e espaços que constituem a nossa pequena história pessoal.

Embora poucos saibam ou reconheçam, as obras destes poetas tornou Juiz de Fora conhecida em Minas, no Brasil e no exterior como a cidade onde se produz uma poesia das mais importantes e criativas da atualidade. Não por acaso, embora poucos saibam ou reconheçam, a crítica especializada e o meio acadêmico cada vez mais se debruçam sobre a obra destes poetas. Pena que, dentre os que não sabem ou não reconhecem, estejam principalmente as instituições públicas e privadas locais.

Enquanto Porto Alegre, Rio de Janeiro e Curitiba criam coleções de livros que procuram tornar visíveis tais cidades, aqui desperdiçamos a imagem que, ao longo de 150 anos, silenciosa e arduamente, poetas, escritores, artistas plásticos, fotógrafos e dramaturgos construíram de e para Juiz de Fora. Tais imagens, textos e encenações são elementos fundamentais para nos reconhecermos e sermos reconhecidos. Apenas quando essas obras se tornarem um patrimônio coletivo, Juiz de Fora será capaz de traçar as estratégias que concretizem em ruas, parques, pontes e construções a cidade que imaginamos, que desejamos.

Por Fernando Fiorese


*Série de nove crônicas publicadas originalmente no jornal Tribuna de Minas de maio a setembro de 2000, por ocasião das comemorações dos 150 anos de Juiz de Fora.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Compartilhar a cidade*

A Profa. Dra. Maria Margarida Martins Salomão, atual Reitora da UFJF, disse-me certa vez que Juiz de Fora tem uma luz estranha. Desde então, compartilho com ela desta cidade iluminada por uma incógnita.

O poeta Iacyr Anderson Freitas contou-me da visão de um guarda na Praça Antônio Carlos, posteriormente materializada num belo poema. Desde então, compartilho com ele deste lugar e deste personagem.

O pintor Dnar Rocha, mesmo sem o saber e desconhecendo quem seja este cronista, revelou-me cores e paisagens desconhecidas de Juiz de Fora. Desde então, compartilho com ele desta cidade plástica.

No livro A idade do serrote, Murilo Mendes transforma em prosa poética os personagens e acontecimentos da sua Ítaca perdida. Desde então, compartilho com ele desta cidade cercada de mulheres e pianos por todos os lados.

Algumas das peças escritas por José Luiz Ribeiro, diretor do Grupo de Teatro Divulgação, fizeram-me enxergar o passado e o presente de Juiz de Fora com a ironia e o lirismo que caracterizam a obra do dramaturgo. Desde então, compartilho com ele dos bastidores e do proscênio desta cidade.

Desde que nos conhecemos, minha mulher desvelou-me a sua meninice entre os bondes e as personagens do bairro São Mateus. Desde então, compartilho com ela da infância idílica que não tive em Juiz de Fora.

O poeta Edimilson de Almeida Pereira descreveu-me recentemente um crepúsculo visto de dentro de um ônibus na margem esquerda do Paraibuna. Desde então, compartilho com ele desta fugidia cena urbana.

As memórias de Pedro Nava nos oferecem um inventário das misérias e das grandezas de Juiz de Fora nas primeiras décadas deste século. Desde então, compartilho com ele deste Baú de ossos.

As obras dos artistas plásticos Stheling e Gérson Guedes me mostraram ângulos inauditos da arquitetura de Juiz de Fora. Desde então, compartilho com eles das texturas e das luzes desta cidade sonhado com pincéis.

Outros tantos foram pródigos em textos e imagens. Compartilho com eles da cidade que houve e não ouve a sua própria história, empenhada que está por inteiro no processo de desconstrução e construção. Les cités vont vite – e com elas as referências que nos permitem habitá-las, descobrindo numa qualquer fachada não o fóssil do passado, mas o animal vivo do nosso imaginário. O que fora urdido por nossas próprias mãos, como espelho, torna-se labirinto, Babel de todos e de ninguém.

Não quero a cidade imobilizada como museu a céu aberto. Não quero a cidade a cultuar cadáveres e naturezas mortas. Quero a cidade das passagens que as galerias do centro concretizam. Passagens onde possa transitar entre a geometria bruta dos edifícios de estética duvidosa e as curvas transtornadas do art nouveau. Passagens para a confluência dos tempos, para estratégias de leitura de uma cidade que todos escrevemos.

Fernando Fiorese

* Texto da série “Plano estratégico de Juiz de Fora", publicada originalmente no jornal Tribuna de Minas de maio a setembro de 2000.