sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Cine Brasil é cenário de exibição em festival de cinema Rio Branquense

Prédio do Cine Brasil


Na pequena cidade de Visconde do Rio Branco foi fundada em 1910 a Empresa Teatral Rio Branquense, que mais tarde recebeu o nome de Cine Brasil. Exibindo filmes desde o tempo do cinema mudo, sua função ia além daquelas esperadas para um cinema normal. Convenções políticas, festas, inaugurações, premiações e muitos outros eventos ocorriam no palco que havia frente à tela de exibições. 

“O cinema se misturou com a parte social durante sua vida inteira e isso foi muito importante para nós porque não tínhamos nem outra diversão, todo mundo ia para o cinema. Ele tinha coxia porque era um teatro também, com medidas exatas de palco, como os melhores teatros do Rio", afirmou a diretora do Museu Municipal de Visconde do Rio Branco Teresinha de Almeida Pinto.

Fechado há mais de 40 anos, o Cine Brasil foi cenário de exibição no dia 28 de julho de 2012 do filme “Eu é Geraldo” de Erick Leite, no primeiro Festival de Cinema Rio Branquense Geraldo Santos Pereira.


Imagem do 1º Festival de Cinema Rio Branquense Geraldo Santos Pereira. Com o Cine Brasil ao fundo



“A exibição vai ser em frente ao Cine Brasil porque vai repetir a formatação do espetáculo na vinda do Geraldo Santos Pereira em 2006, quando ele exibiu o filme ‘O Aleijadinho’ lá em frente ao Cinema Brasil. Então, a razão é essa. E também não teríamos um lugar mais significativo e melhor do que lá", explicou um dos organizadores do festival, Franklin Ferreira Netto.

Atualmente o prédio do antigo Cine Brasil, que é tombado como patrimônio histórico, tornou-se ponto comercial, subdivido em quatro lojas. Franklin manifestou um desejo por parte da organização do evento de que o prédio volte um dia a exibir filmes ou então seja reativado como um centro cultural, mas deixou claro que, para o andamento dessa ideia, primeiro é necessário fazer um levantamento de tudo o que foi alterado no interior do cinema.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Audiovisual da minoria no YouTube e a construção de identidades


A web se tornou um espaço que promove a visibilidade do cotidiano tanto do indivíduo quanto do seu grupo social. A cidadania aparece independente do monopólio da mídia. Existe uma relação de maior proximidade com a técnica audiovisual devido à facilidade de produzir e postar conteúdos nos sites. Neste contexto, o hip hop aparece como a maior expressão identitária das culturas marginais, devido ao fato de sua linguagem trabalhar os conteúdos de uma maneira reivindicatória.

Através da listagem dos dez vídeos mais acessados no buscador do site, ligados à palavra-chave “periferia Juiz de Fora” e “comunidade Juiz de Fora” pretendemos perceber como esses conceitos são utilizados na representação de populações carentes. Observamos que os vídeos que aparecem no buscador do YouTube, referentes à periferia ou à comunidade de Juiz de Fora mostram que não existe um volume considerável de representações que são realmente tradutoras do cotidiano das minorias da cidade. Na pesquisa relacionada ao termo periferia foram encontrados apenas 20 vídeos, sendo que cinco trazem clipes de hip hop. Já com o conceito de comunidade os resultados são mais expressivos com 376 vídeos que em sua maioria são sobre música gospel.

Percebemos assim, o cuidado que as minorias têm na escolha dos termos comunidade e periferia, quando são selecionados para representarem suas produções audiovisuais na web. Periferia é mais associada ao movimento hip hop, enquanto que comunidade é mais identificada no discurso de grupos religiosos. O gospel aparece refletindo o modismo das composições na contemporaneidade. A popularidade do gênero é uma demanda latente do marketing dos CD’s, shows e eventos, o que pode interferir nas postagens de vídeos encontradas no YouTube.

Diferentemente dos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, Juiz de Fora se mostra como uma cidade que ainda não possui uma cultura voltada para a mobilização social, preocupada em tratar temas de interesses comuns dos cidadãos. Outra hipótese é que o acesso às novas tecnologias ainda não seja um privilégio de todos.


Alguns vídeos ainda precisam da colaboração de grupos que possuem uma formação profissional para serem realizados ou ainda são propostos e dirigidos por pessoas que se
interessam por essas comunidades. Talvez seja necessária uma política voltada para a educação dessas populações favorecendo a produção de seus próprios conteúdos, ganhando assim uma independência em relação à forma e o conteúdo, a edição e a postagem de suas produções.


Rafaella Prata RabelloJornalista pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora e Graduanda do 6º período de Letras na Universidade Federal de Juiz de Fora. Bolsista Pibic/CNPq no projeto Cidade e memória: a construção da identidade urbana pela narrativa audiovisual

E-mail: rafaella_prata@hotmail.com


Referências

BARBALHO, Alexandre. Cidadania, minorias e mídia: ou algumas questões postas ao liberalismo. In: PAIVA, Raquel e BARBALHO, Alexandre (orgs.). Comunicação e cultura das minorias. 1 ed., São Paulo: Ed Paulus, 2005.


FERREIRA, Jairo; VIZER, Eduardo (orgs) Mídia e movimentos sociais: linguagens e coletivos em ação. São Paulo: Ed Paulus, 2007. – (Coleção Comunicação)


LEONEL, Juliana; MENDONÇA, Ricardo Fabrino (orgs). Audiovisual comunitário e educação: histórias, processos e produtos. Belo Horizonte: Ed Autêntica, 2010.


LÉVY, Pierre. A Inteligência Coletiva. 4ª ed. São Paulo: Loyola, 2003


OLIVEIRA, Henrique Luiz Pereira. Tecnologias audiovisuais e transformação social: o movimento do vídeo popular no Brasil (1984-1995). 2001. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001.


PAIVA, Raquel. O espírito comum. 1 ed., Petrópolis, RJ: Ed Vozes, 1998.


PEREIRA, André Luiz; FAGUNDES, Daniel; SOARES, Diego F. F., SOARES, Fernando Solidade. Para reinventar o vídeo e a periferia: vídeo popular, cinema de quebrada, vídeo comunitário, audiovisual periférico... Ser ou não ser?


PRYSTON, Angela; CUNHA, Paulo (orgs). Ecos urbanos: a cidade e suas articulações midiáticas. Porto Alegre: Ed Sulina, 2008.


SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho: uma teoria de comunicação linear e em rede. Petrópolis, RJ: Ed Vozes, 2002.




sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O lugar do imaginário

As metáforas arqueológicas são as que melhor dizem da relação do homem com as cidades. Habitar uma cidade é escavar as camadas de tempos e espaços, acumuladas e justapostas pelo trabalho de gerações. Labirinto ou Babel, a cena da cidade é menos a matéria concreta de ruas, construções e alguns poucos resíduos naturais do que as imagens e textos registrados na memória e no imaginário dos seus cidadãos.
Mesmo sem a viagem física, ao leitor contumaz é possível dizer da Berlim de Theodor Fontane e Walter Benjamin, da Paris de Charles Baudelaire e Victor Hugo, do Rio de Janeiro  de Machado de Assis e João do Rio, da São Paulo de Oswald e Mário de Andrade. Mas será possível, a nós, habitantes desta cidade, dizer da Juiz de Fora de Pedro Nava, de Murilo Mendes, de Rachel Jardim e tantos outros?
A ênfase excessiva nos aspectos materiais da cidade muitas vezes oblitera a nossa capacidade de pensá-la pelo viés da memória e do imaginário de seus habitantes. Mesmo porque, ao contrário do que acontece em Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro (apenas para citar as mais óbvias), as instituições públicas e privadas de Juiz de Fora muito pouco têm-se empenhado na construção de uma identidade histórica e afetiva da cidade.
Enganam-se os que pensam habitar apenas uma cidade física. Como um duplo, a Juiz de Fora da nossa memória nos habita, assombra a matéria do presente. Mesmo desfigurados ou extintos, os lugares e os acontecimentos pretéritos nos assaltam. A paisagem interditada por algum edifício nos espreita quando dobramos uma qualquer esquina. O tempo morto retorna diante do último resíduo arquitetônico do Cine Paraíso.
Habitar uma cidade é aprender a escavar as camadas de tempo e espaço que nos conformam enquanto cidadãos. Onde a Juiz de Fora de Murilo Mendes, cercada de pianos por todos os lados? Onde a Rua Halfeld como um rio de Pedro Nava? Onde as “Imagens de Juiz de Fora” cantadas por Manuel Bandeira? Onde os personagens anônimos de 150 anos de história? Infelizmente enclausurados em livros, álbuns de família, papéis devastados pelo tempo e algumas poucas memórias privilegiadas.
Não se trata de nostalgia nem de anacronismo. Para construir a cidade de todos e de cada um, urge tornar coletivos a memória e o imaginário de Juiz de Fora. Planejar uma cidade para o século XXI implica antes construí-la em nosso imaginário, uma obra antes afetiva do que material. E decerto, possibilitar o acesso dos cidadãos aos textos e imagens que registram o passado e o presente de Juiz de Fora é permitir que possamos encontrar a nossa identidade, mesmo que precária.
No plano das mentalidades, urge um plano estratégico que resulte em investimentos na construção de uma identidade afetiva e histórica de Juiz de Fora, na qual inscrevemos medos, esperanças e utopias para construir a cidade que nos habita na cidade que habitamos.
Fernando Fiorese

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Hospital Colônia de Barbacena: a memória enquanto notícia



A atividade jornalística diária está vinculada à temporalidade dos acontecimentos. Por seu caráter urgente, noticia com maior abrangência os fatos efêmeros e de repercussão imediata na sociedade. Cabe ao jornalista, a escolha dos conteúdos que transmite à população, atuando como principal vetor da propagação diária de informações.

Mas, e quando a importância de determinado fato noticioso encontra-se submersa nas ondas do passado? Quando as teias do tempo ocultam uma história cujos ecos fazem-se sentir fortemente no presente? É nesse momento que o resgate da memória entra como co-participante da atividade jornalística.

No mês de novembro de 2011, a jornalista mineira Daniela Arbex, trouxe à discussão pública um tema, cujos desdobramentos explicam não somente o modo de agir e pensar de uma época e uma dada cidade, mas principalmente evidenciam toda uma engrenagem social no tratamento da loucura. Através do jornal juiz-forano Tribuna de Minas, as mazelas, excentricidades e o genocídio de mais de 60 mil internos no Hospital Colônia de Barbacena, cinquenta anos atrás, ganharam novamente a atenção da população.

O retorno à imprensa do “holocausto” vivenciado em Barbacena, mais do que colocar em pauta um fato de importância social e histórica, promove a retomada de significações que permitam o paralelo entre aquilo que foi e aquilo que ainda é; enseja a reflexão sobre uma memória, que apesar de “esquecida” repercute intensamente no presente.

Mais do que vítimas isoladas de um período marcado pela crueldade e pelo desrespeito aos doentes mentais e aos socialmente marginalizados, todos aqueles que estiveram direta ou indiretamente envolvidos ao hospital psiquiátrico de Barbacena compõem a sinfonia da memória plural de um tempo.        

A memória é, portanto, peça fundamental no resgate e recuperação dos passados históricos. É através dela que a noticia pretérita pode ser revisitada e realocada ao seu patamar de importância e significação perante a sociedade. A atividade jornalística séria e comprometida deve sempre considerar os relatos do passado como um critério relevante e primordial na construção e elaboração das reportagens que pretendam inspirar no presente alguma forma de denúncia ou reflexão.

Karina Menezes Vasconcellos

ARBEX, Daniela. Extermínio de milhares em hospital psiquiátrico. Tribuna de Minas, Juiz de Fora, 20 nov. 2011. Geral, p.3.

ARBEX, Daniela. Denúncias dão início à reforma psiquiátrica. Tribuna de Minas, Juiz de Fora, 24 nov. 2011. Geral, p.5.

BARBOSA, Marialva. Jornalismo impresso e a construção de uma memória para sua história. . In: BRAGANÇA, Aníbal; MOREIRA Sonia Virginia. Comunicação, acontecimento e memória. São Paulo: Intercom, 2005. Capt. 2 p. 102.

BERGER, Cristina. Proliferação da memória: a questão do reavivamento do passado na imprensa. In: BRAGANÇA, Aníbal; MOREIRA Sonia Virginia. Comunicação, acontecimento e memória. São Paulo: Intercom, 2005. Capt. 1 p. 60.

POLLACK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5 n. 10, 1992.