sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Hospital Colônia de Barbacena: a memória enquanto notícia



A atividade jornalística diária está vinculada à temporalidade dos acontecimentos. Por seu caráter urgente, noticia com maior abrangência os fatos efêmeros e de repercussão imediata na sociedade. Cabe ao jornalista, a escolha dos conteúdos que transmite à população, atuando como principal vetor da propagação diária de informações.

Mas, e quando a importância de determinado fato noticioso encontra-se submersa nas ondas do passado? Quando as teias do tempo ocultam uma história cujos ecos fazem-se sentir fortemente no presente? É nesse momento que o resgate da memória entra como co-participante da atividade jornalística.

No mês de novembro de 2011, a jornalista mineira Daniela Arbex, trouxe à discussão pública um tema, cujos desdobramentos explicam não somente o modo de agir e pensar de uma época e uma dada cidade, mas principalmente evidenciam toda uma engrenagem social no tratamento da loucura. Através do jornal juiz-forano Tribuna de Minas, as mazelas, excentricidades e o genocídio de mais de 60 mil internos no Hospital Colônia de Barbacena, cinquenta anos atrás, ganharam novamente a atenção da população.

O retorno à imprensa do “holocausto” vivenciado em Barbacena, mais do que colocar em pauta um fato de importância social e histórica, promove a retomada de significações que permitam o paralelo entre aquilo que foi e aquilo que ainda é; enseja a reflexão sobre uma memória, que apesar de “esquecida” repercute intensamente no presente.

Mais do que vítimas isoladas de um período marcado pela crueldade e pelo desrespeito aos doentes mentais e aos socialmente marginalizados, todos aqueles que estiveram direta ou indiretamente envolvidos ao hospital psiquiátrico de Barbacena compõem a sinfonia da memória plural de um tempo.        

A memória é, portanto, peça fundamental no resgate e recuperação dos passados históricos. É através dela que a noticia pretérita pode ser revisitada e realocada ao seu patamar de importância e significação perante a sociedade. A atividade jornalística séria e comprometida deve sempre considerar os relatos do passado como um critério relevante e primordial na construção e elaboração das reportagens que pretendam inspirar no presente alguma forma de denúncia ou reflexão.

Karina Menezes Vasconcellos

ARBEX, Daniela. Extermínio de milhares em hospital psiquiátrico. Tribuna de Minas, Juiz de Fora, 20 nov. 2011. Geral, p.3.

ARBEX, Daniela. Denúncias dão início à reforma psiquiátrica. Tribuna de Minas, Juiz de Fora, 24 nov. 2011. Geral, p.5.

BARBOSA, Marialva. Jornalismo impresso e a construção de uma memória para sua história. . In: BRAGANÇA, Aníbal; MOREIRA Sonia Virginia. Comunicação, acontecimento e memória. São Paulo: Intercom, 2005. Capt. 2 p. 102.

BERGER, Cristina. Proliferação da memória: a questão do reavivamento do passado na imprensa. In: BRAGANÇA, Aníbal; MOREIRA Sonia Virginia. Comunicação, acontecimento e memória. São Paulo: Intercom, 2005. Capt. 1 p. 60.

POLLACK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5 n. 10, 1992.

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