A atividade jornalística diária está vinculada à
temporalidade dos acontecimentos. Por seu caráter urgente, noticia com maior
abrangência os fatos efêmeros e de repercussão imediata na sociedade. Cabe
ao jornalista, a escolha dos conteúdos que transmite à população, atuando como
principal vetor da propagação diária de informações.
Mas, e quando a importância de determinado fato noticioso
encontra-se submersa nas ondas do passado? Quando as teias do tempo ocultam uma
história cujos ecos fazem-se sentir fortemente no presente? É nesse momento que
o resgate da memória entra como co-participante da atividade jornalística.
No mês de novembro de 2011, a jornalista
mineira Daniela Arbex, trouxe à discussão pública um tema, cujos desdobramentos
explicam não somente o modo de agir e pensar de uma época e uma dada cidade,
mas principalmente evidenciam toda uma engrenagem social no tratamento da
loucura. Através do jornal juiz-forano Tribuna de Minas, as
mazelas, excentricidades e o genocídio de mais de 60 mil internos no Hospital
Colônia de Barbacena, cinquenta anos atrás, ganharam novamente a atenção da
população.
O retorno à imprensa do “holocausto” vivenciado
em Barbacena, mais do que colocar em pauta um fato de importância social e
histórica, promove a retomada de significações que permitam o paralelo entre
aquilo que foi e aquilo que ainda é; enseja a reflexão sobre uma memória, que
apesar de “esquecida” repercute intensamente no presente.
Mais do que vítimas isoladas de um período marcado pela
crueldade e pelo desrespeito aos doentes mentais e aos socialmente
marginalizados, todos aqueles que estiveram direta ou indiretamente envolvidos
ao hospital psiquiátrico de Barbacena compõem a sinfonia da memória plural de
um tempo.
A memória é, portanto, peça fundamental no resgate e
recuperação dos passados históricos. É através dela que a noticia pretérita
pode ser revisitada e realocada ao seu patamar de importância e significação
perante a sociedade. A atividade jornalística séria e comprometida deve
sempre considerar os relatos do passado como um critério relevante e primordial
na construção e elaboração das reportagens que pretendam inspirar no presente
alguma forma de denúncia ou reflexão.
Karina Menezes Vasconcellos
ARBEX, Daniela. Extermínio de milhares em hospital
psiquiátrico. Tribuna de Minas, Juiz de Fora, 20 nov. 2011. Geral, p.3.
ARBEX, Daniela. Denúncias dão início à reforma
psiquiátrica. Tribuna de Minas, Juiz de Fora, 24 nov. 2011. Geral, p.5.
BARBOSA, Marialva. Jornalismo impresso e a construção de
uma memória para sua história. . In: BRAGANÇA, Aníbal; MOREIRA Sonia
Virginia. Comunicação, acontecimento e memória. São Paulo: Intercom, 2005.
Capt. 2 p. 102.
BERGER, Cristina. Proliferação da memória: a questão
do reavivamento do passado na imprensa. In: BRAGANÇA, Aníbal; MOREIRA Sonia
Virginia. Comunicação, acontecimento e memória. São Paulo: Intercom, 2005.
Capt. 1 p. 60.
POLLACK, Michael. Memória e identidade social.
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5 n. 10, 1992.
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