sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Audiovisual da minoria no YouTube e a construção de identidades
A web se tornou um espaço que promove a visibilidade do cotidiano tanto do indivíduo quanto do seu grupo social. A cidadania aparece independente do monopólio da mídia. Existe uma relação de maior proximidade com a técnica audiovisual devido à facilidade de produzir e postar conteúdos nos sites. Neste contexto, o hip hop aparece como a maior expressão identitária das culturas marginais, devido ao fato de sua linguagem trabalhar os conteúdos de uma maneira reivindicatória.
Através da listagem dos dez vídeos mais acessados no buscador do site, ligados à palavra-chave “periferia Juiz de Fora” e “comunidade Juiz de Fora” pretendemos perceber como esses conceitos são utilizados na representação de populações carentes. Observamos que os vídeos que aparecem no buscador do YouTube, referentes à periferia ou à comunidade de Juiz de Fora mostram que não existe um volume considerável de representações que são realmente tradutoras do cotidiano das minorias da cidade. Na pesquisa relacionada ao termo periferia foram encontrados apenas 20 vídeos, sendo que cinco trazem clipes de hip hop. Já com o conceito de comunidade os resultados são mais expressivos com 376 vídeos que em sua maioria são sobre música gospel.
Percebemos assim, o cuidado que as minorias têm na escolha dos termos comunidade e periferia, quando são selecionados para representarem suas produções audiovisuais na web. Periferia é mais associada ao movimento hip hop, enquanto que comunidade é mais identificada no discurso de grupos religiosos. O gospel aparece refletindo o modismo das composições na contemporaneidade. A popularidade do gênero é uma demanda latente do marketing dos CD’s, shows e eventos, o que pode interferir nas postagens de vídeos encontradas no YouTube.
Diferentemente dos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, Juiz de Fora se mostra como uma cidade que ainda não possui uma cultura voltada para a mobilização social, preocupada em tratar temas de interesses comuns dos cidadãos. Outra hipótese é que o acesso às novas tecnologias ainda não seja um privilégio de todos.
Alguns vídeos ainda precisam da colaboração de grupos que possuem uma formação profissional para serem realizados ou ainda são propostos e dirigidos por pessoas que se
interessam por essas comunidades. Talvez seja necessária uma política voltada para a educação dessas populações favorecendo a produção de seus próprios conteúdos, ganhando assim uma independência em relação à forma e o conteúdo, a edição e a postagem de suas produções.
Rafaella Prata Rabello: Jornalista pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora e Graduanda do 6º período de Letras na Universidade Federal de Juiz de Fora. Bolsista Pibic/CNPq no projeto Cidade e memória: a construção da identidade urbana pela narrativa audiovisual
E-mail: rafaella_prata@hotmail.com
Referências
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FERREIRA, Jairo; VIZER, Eduardo (orgs) Mídia e movimentos sociais: linguagens e coletivos em ação. São Paulo: Ed Paulus, 2007. – (Coleção Comunicação)
LEONEL, Juliana; MENDONÇA, Ricardo Fabrino (orgs). Audiovisual comunitário e educação: histórias, processos e produtos. Belo Horizonte: Ed Autêntica, 2010.
LÉVY, Pierre. A Inteligência Coletiva. 4ª ed. São Paulo: Loyola, 2003
OLIVEIRA, Henrique Luiz Pereira. Tecnologias audiovisuais e transformação social: o movimento do vídeo popular no Brasil (1984-1995). 2001. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001.
PAIVA, Raquel. O espírito comum. 1 ed., Petrópolis, RJ: Ed Vozes, 1998.
PEREIRA, André Luiz; FAGUNDES, Daniel; SOARES, Diego F. F., SOARES, Fernando Solidade. Para reinventar o vídeo e a periferia: vídeo popular, cinema de quebrada, vídeo comunitário, audiovisual periférico... Ser ou não ser?
PRYSTON, Angela; CUNHA, Paulo (orgs). Ecos urbanos: a cidade e suas articulações midiáticas. Porto Alegre: Ed Sulina, 2008.
SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho: uma teoria de comunicação linear e em rede. Petrópolis, RJ: Ed Vozes, 2002.
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