Juiz de Fora ficou conhecida nacionalmente como a cidade de onde
partiu o Golpe Civil Militar. Mais recentemente, a divulgação de um
depoimento da presidente Dilma Rousseff onde relatou sua passagem pela
cidade, identificou Juiz de Fora como um centro de tortura e colocou-a
na memória nacional como uma cidade reacionária. Mas uma cidade traz
consigo marcas de diferentes citadinos que a praticaram. Histórias e
memórias que se sobrepõem, constituindo-se fios que ao serem tecidos
formam a história da cidade.
Juiz de Fora não tem apenas as marcas reacionárias durante a Ditadura
Civil Militar Brasileira. Seus praticantes a fizeram palco de
importantes lutas na busca pelas liberdades democráticas. Dentre estes
representantes de uma história de oposição e de resistência, destaco o
Movimento Estudantil, formado por seus diversos militantes, seja da
geração de 1968, que enfrentou os anos mais duros da repressão militar,
seja a geração da transição dos anos 1970, que lutou pelas liberdades
democráticas. Na cidade, a cultura serviu como forma de mobilização em
diferentes momentos e, entrelaçada aos discursos da juventude com
horizontes utópicos, tornou-se o substrato onde a arte floresceu.
O movimento estudantil juizforano integrava-se às lutas embrenhadas
por todo o país e levava à cidade a se envolver em uma luta ampla pelo
fim da Ditadura. Quando o apito da panela de pressão soou nos grandes
centros, representando uma ebulição dos movimentos sociais e um
protagonismo destes no processo de transição, alargando seus limites, o
movimento estudantil de Juiz de Fora foi pra rua, enfrentou a ditadura e
lutou pelas melhorias na universidade, por mais verbas para a educação,
pela melhoria no transporte para o campus da UFJF, e junto com esta
pauta levava a luta “pelas liberdades democráticas”. Os estudantes
enfrentaram a policia e cachorros, como no caso da conhecida Greve dos
Cachorros no ano de 1978, viam nos políticos da ARENA e no reitor da
universidade, indicado pelo presidente, os braços da ditadura na cidade.
Os estudantes juizforanos também estiveram presentes no Congresso de
Salvador, para reconstruir a UNE, lutaram pela anistia política,
construíram partidos, integraram a vida política e levaram o Brasil para
construir sua democracia.
Por tudo isso, convido você a pensar Juiz de Fora para além de suas
marcas reacionárias, mas entendê-la como uma cidade que tem em sua
história as marcas da memória daqueles que lutaram pelo fim da ditadura e
defenderam a democracia. Esta história e estas memórias são o que
pesquiso.
Gislene Lacerda. Doutoranda em História Social – PPGHIS / UFRJ;
Autora do livro: “Memórias de Esquerda: o Movimento Estudantil em Juiz
de Fora de 1974 a 1985”.
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