domingo, 9 de setembro de 2012

O Diário Mercantil e o I Festival de Cinema Brasileiro de Juiz de Fora


A década de 60 é considerada por alguns historiadores como os “anos rebeldes” devido aos vários movimentos de contracultura que ocorreram naquela época. O mundo estava alavancado pelas inovações tecnológicas que progrediam e entusiasmavam o homem. Certamente, a política era o combustível que mais fermentava este progresso fascinante.

Apesar da maior parte da década de 1960 estar sob o regime militar, Juiz de Fora tinha uma produção cultural fervilhante. Os militares certamente pensavam que a vitória armada era a vitória sobre o comunismo, mas não poderiam imaginar que a esquerda fazia política ocupando os cargos intelectuais em jornais, universidades e tornava-se a classe de expressão no país.


O PCB (Partido Comunista Brasileiro) contribuiu significativamente para o debate cultural tão valorizado daquele período, principalmente pela forte militância dos jovens que, ligados também à Universidade Federal de Juiz de Fora, discutiam assuntos relacionados à política nacional, à vida na cidade, à família, empreendendo discussões teóricas significativas daquele período, movimentando forças contestatórias e críticas. É em meio a esta florescente vida cultural, universitária e política que é concebido e realizado o I Festival de Cinema Brasileiro de Juiz de Fora, entre os dias 28 e 31 de maio de 1966. O evento contou com a ampla cobertura do jornal impresso “Diário Mercantil” que levou à população da época todas as principais informações sobre o dia-a-dia do Festival.

Mais do que uma cobertura factual daquele momento, nas páginas amareladas e já muito maltratadas pelo tempo do jornal DM estão delineados os reflexos de uma cidade que respirava cultura e que produziu o primeiro Festival de Cinema do Brasil. Graças ao jornalismo produzido naquela época podemos vislumbrar, pela fechadura da memória, o cenário histórico e social de uma cidade que hoje permanece viva apenas na lembrança daqueles que usufruíram as dores e as delícias dos anos 60.

Ferramenta da memória, que permite ao presente a observação de fatos pretéritos, o “Diário Mercantil” converte-se também em objeto da análise científica, funcionando como um instrumento de apoio ao pesquisador, fornecendo-lhe os dados de que este necessita para empreender um estudo objetivo e reflexivo sobre o passado, suas peculiaridades, o modo de ser de uma cidade e a maneira pela qual era contada e transmitida sua história.  

Karina Menezes Vasconcellos

MUSSE, Christina Ferraz. Impressa, cultura e imaginário urbano: exercício de memória sobre os anos 60/70 em Juiz de Fora. Juiz de Fora: Funalfa, 2008.

NASCIMENTO, Durbens Martins. Guerrilha no Brasil: uma crítica à tese do “Suicídio Revolucionário” em voga nos anos 80 e 90. 2004. Disponível em: <http://www.historia.uff.br/cantareira/novacantareira/artigos/edicao5/guerrilha.pdf>. Acesso em: 18/07/2012. 

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